domingo, 8 de julho de 2012

O Caminho Precisa Ser Tão Empolgante Quanto a Chegada


Todo dia ela também faz tudo sempre igual. Acorda, toma banho, faz café, dá uma checada no Instagram, vai pro metro, pensa em como odeia aquela lotação matinal, chega no trabalho, ouve um pedido do chefe, faz o que ele manda, almoça, começa a contagem regressiva, vai comer uma coxinha na padaria, olha pro relógio, olha pro relógio de novo. Hora de ir embora. Pega o metro de volta, chega em casa, toma um banho, assiste um programa qualquer na TV, come um lanche, programa o despertador pro dia seguinte, vai dormir. Pra repetir tudo de novo no dia seguinte. Se você perguntar a ela o porque dessa rotina diária ela vai te responder como quem responde uma coisa óbvia – porque eu preciso de grana, porque preciso ser consequentemente promovida até chegar numa posição bacana, pra me aposentar como um salário legal, talvez viajar pra alguns lugares, comprar uma TV de plasma, trocar de carro. Essa realidade talvez possa ser um pouco parecida com a sua, ou bem diferente – o que importa é que os mesmos erros acontecem em situações diversas:
Vive-se pensando num destino final. Esquece-se que a trajetória deveria ser tão importante quanto a chegada.
Os sonhos costumam causar esse tipo de confusão nas nossas vidas. Não há nada de errado com eles, pelo contrário, mas acontece é que muitas vezes deixamos de viver o presente pra sonhar com uma realidade futura que nem sabemos se irá acontecer. Você sabe como é. Posso parar de digitar esse texto pra ir pegar uma água na cozinha, tropeçar na escada e morrer ali mesmo. Trágico? Sim. Impossível, com certeza não. Lembra daquela velha máxima que pra morrer basta estar vivo?
De fato, sempre achei a felicidade assustadora demais pra algumas pessoas. Fala-se tanto dela que a constatação da sua existência parece ser algo surreal. É como ser apresentado para a Madonna. Você sabe que ela existe, mas vê-la assim a centímetros de você, se aproximando pra dar um beijinho, chega a ser até assustador. Mesmo que você fosse fã, que cantasse Like a Virgin quando ainda era virgem de verdade, esse encontro não poderia ser natural. Felicidade é assim também. Como podemos presumir que não há realmente algum sentido claro na vida – até porque se houvesse a gente já teria descoberto depois de tantos anos – a gente busca dar um significado pra nossa existência, que muitas vezes é o sonhado “ser feliz”. Então trabalhamos para um dia sermos felizes, malhamos para um dia ficarmos gostosas, estudamos para algum dia termos uma profissão, recolhemos tributos para algum dia nos aposentarmos. No meio de tantos afazeres em busca da felicidade, nos esquecemos do essencial – o hoje, era o amanhã de ontem. Algum dia a gente fez planos para que hoje estivéssemos felizes, mas nem nos demos conta que o futuro chegou já que estamos ocupados demais pensando no futuro de amanhã.
E é então que surge aqueles cliques na vida que nos deixam apavorados: se o presente é a sua única garantia, você pode dizer que está feliz hoje? Se um meteoro se chocasse com a Terra nos próximos minutos você poderia dizer que morreu feliz? Ou estaria apenas existindo enquanto sonhava com um futuro que, lamentavelmente, não chegou? Será que a TV de plasma pendurada na sua sala compensa as horas do seu dia em que passa na frente do computador, fazendo um trabalho para alguém que não gosta, contando os segundos pro relógio chegar nas 18h? Será que o diploma pendurado na parede e a foto com chapéu de formanda na cabeceira da cama dos seus pais compensa a enorme quantidade de horas que passou trancada numa sala ouvindo professores despejarem teorias que não tem nada a ver com você, apenas pra trilhar uma profissão que é bem vista pela sociedade?
Saber onde quer chegar é essencial pra não ser levado por quaisquer ventos. Mas viagem até lá precisa ser aproveitada. Então, tire um pouco o peso da vida das suas costas. Sorria mais por motivos bobos. Gaste mais tempos com os amigos. Ande mais descalço. Cante aquela sua música preferida do Chico em alto som, enquanto as pessoas nos carros ao lado pensem que você é louca. Aliás, seja um pouco mais louca. Pegue um avião pra encontrar aquele amor. Troque o emprego certo por aquele que faz seu coração descompassar, mesmo que todos te digam pra não fazer isso. Mergulhe no mar mesmo que tenha acabado de arrumar o cabelo. Largue a colher e coloque a mão naquela massa grudenta. Converse com as plantas. Peça conselhos pro seu cachorro. Esqueça o guarda-chuva em casa. Vista aquela roupa que só você acha linda e que está totalmente fora de moda. Ria dos seus problemas. Pague uma fortuna por aquela caixa de chocolate com pistaches – coma um por um pensando em como a vida é boa. Deixe de comprar aquele sapato e alimente 5 moradores de rua. Lembre-se de como somos fúteis. Dispense o aperto de mão, tasque logo um abraço. Ligue no dia seguinte e diga que ele tem a boca mais gostosa que você beijou na vida. Se tomar um fora, pelo menos dividiu aquele pensamento com alguém. Saia em menos fotos, vivencie mais momentos. Esqueça de carregar seu celular por 3 dias. Se estiver na dúvida, lembre-se do meteoro que pode atingir a Terra a qualquer momento.
Já dizia Caio F. – a vida é agora, aprende.


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