domingo, 17 de abril de 2011

A Criança Abandonada e a Mãe- Lua - Por Monika Von Koss‏

"Nestes tempos revoltos pelos quais estamos passando, é comum emergir do nosso âmago a criança abandonada, trazendo a sensação de não saber o que fazer da vida. Nossas crenças, habilidades, conhecimento, parecem não funcionar mais e ficamos sem rumo.

Para vocês que, como eu, têm se sentido assim, quero contar aqui uma das histórias de Pinkola Estés, esta maravilhosa contadora de histórias para a alma. Ela nos lembra que a luz interna não se apaga jamais. E se colapsamos sob o efeito da raiva, ocultando nossos sentimentos de desvalor, desproteção, desamparo, ela nos ensina que precisamos estar dispostas a cuidar de nós mesmas, sermos nossa própria mãe. Mas não basta esta mãe interna nos amar, é preciso que ela nos guie por meio da intuição, da consciência, do senso comum.

Eis a história, que se passa em uma vila, onde tudo andava bem, exceto por um pequeno detalhe: a vila era circundada por um pântano negro, onde sempre era escuro e que exalava um cheiro mal, pois tudo nele apodrecia.

A escuridão deste pântano fazia com que as pessoas necessitassem da luz da lua, para guiá-los à noite. Mas, nas noites em que a lua não aparecia, os charcos eram traiçoeiros. E lá viviam muitas coisas ruins, assim como coisas ruins também vivem nos cantos mais escuros da mente humana e que surgem à noite, para conduzirem os viajantes aos pesadelos, onde os afundam.

Quando a mãe-lua soube que, em pouco tempo, muitas pessoas haviam morrido, ela ficou muito entristecida, pois ela se preocupava com os humanos. Então decidiu vir à terra e ver por ela mesma o que estava acontecendo. E quando chegou a escuridão do mês, ela pisou em uma estrela cadente e aterrizou na beira do pântano, vestida com um manto preto, para que nenhuma luz pudesse escapar. E até onde ela pode ver, os charcos eram como espelhos negros, com alguns salgueiros aqui e ali. Ela sentiu o cheiro do musgo e viu, ao redor de seu manto, um brilho que a fez tremer de frio e medo, como todos nós. E envolveu-se mais ainda em seu manto.

Mas ela amava tanto os seres humanos, que começou a investigar, conduzida pela luz dourada que escapava de sua cabeça e iluminava tenuamente seus belos pés brancos. Encontrou um caminho pela grama, mas quando pensou ter chegado à terra firma, sentiu algo se mover entre seus pés. Caiu para frente e buscou apoio em um pequeno galho, para se dar conta que estes se enrolavam em seus tornozelos e braços, prendendo-a, até ela se encontrar na mais negra escuridão.

Enquanto lutava para se desvencilhar, ouviu uma voz ao longe chamando: “Me ajude, por favor!” Enquanto ouvia, o chamado chegava mais perto, até ela vislumbrar alguém tropeçando. Finalmente viu, à tênue luz das estrelas, um rosto amedrontado, com olhos assustados, e soube imediatamente que era uma pobre alma que havia se perdido, atraída pela sua luz, e sentiu muita tristeza por haver atraído a alma à sua morte. Na tentativa de avisá-la, adverti-la, ela lutou até que sua capa caiu completamente e seus cabelos imersos nas águas negras emitiram uma luz tão brilhante, como se fosse dia.

Neste momento, o viajante viu os maus recuarem para seus buracos. Mas a lua continuava sua luta para se livrar dos galhos, que a seguravam cada vez mais apertado. Feliz por estar salvo, o viajante não se deu conta desta coisa mais marvilhosa que acabava de acontecer. E a mãe-lua finalmente afundou exaurida no lodo, até seu cabelo e tudo em volta ficar novamente no escuro.

E os seres que gostavam da escuridão voltaram. Não havia mais luz à noite e muitas pessoas se perderam, deixando crianças órfãos. Então as pessoas do vilarejo decidiram descobrir o que tinha acontecido com a lua e, levando tochas, penetraram no charco. Andaram e cavaram, até encontrar um ser muito belo, com os olhos cheios de amor pela humanidade.

Liberta, a lua se ergueu até chegar ao céu, onde, na maioria das noites, viaja com sua luz, iluminando a terra. E nas poucas noites previsíveis em que ela se cobre e não brilha, os viajantes aprenderam a ficar em casa e esperar, até ela lhes mostrar novamente o caminho.

Moral da história? Em tempos revoltos, quando tudo à nossa volta parece mergulhar na escuridão, precisamos nos recolher, acender nossas tochas internas e vasculhar a escuridão que nos envolve, até encontrar e revelar a luz e a beleza. Para isto precisamos ter fé na vida, no amor e, principalmente, em nossa criança interna."

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