sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DEUSA LILITH...


Deusas, lendas, arquétipos, psicologia, psique – sempre achei todas essas coisas fascinantes e extremamente importantes na vida humana, e especialmente na vida das mulheres.

Hoje eu quero falar da minha deusa principal: Lilith.

A Lenda Esquecida

A história que eu conheço é bem diferente das histórias cristãs e judaicas que demonizaram Lilith (as quais são as que a maioria das pessoas conhecem). Essa história me foi legada como uma herança.

Ela é contada de várias formas, mas o ponto principal é que essa história diz que quando Deus criou Adão, também criou uma mulher, feita da Terra, da mesma forma que ele. Essa mulher era Lilith.

Lilith é referida na Cabala como a primeira mulher do bíblico Adão (…) No folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira esposa de Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa, chegando depois a ser descrita como um demônio.

De acordo com certas interpretações da criação humana em Gênesis, no Antigo Testamento, reconhecendo que havia sido criada por Deus com a mesma matéria prima, Lilith rebelou-se, recusando-se a ficar sempre em baixo durante as suas relações sexuais. (…)

Assim dizia Lilith: “Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.

Adão se recusou a aceitar essa igualdade, insistindo em que Lilith deveria se deitar debaixo dele e argumentando que ele era superior a ela. Lilith não quis se submeter, visto que ambos haviam sido criados da mesma forma, e abandonou o Éden.

Adão foi se queixar ao Todo Poderoso, dizendo: “Soberano do Universo! A mulher que o Senhor me deu foi embora, fugiu.” Deus então mandou três anjos no encalço dela, dizendo a Adão:

“Se ela concordar em voltar, o que foi feito é bom. Se não, ela deverá permitir que uma centena de seus filhos morram a cada dia.”

Condenada e Demonizada

A partir daí, Lilith foi demonizada, pois ela se recusou em voltar.

O fato de que uma mulher que se recusou a ser submissa ao marido tenha sido transformada em demônio nos mitos não surpreende, mas não deixa de ser curioso o fato de que existem vestígios da história dela na Bíblia, os quais teriam sido expurgados quase por completo.

O Resgate

Com o ressurgimento das religiões pagãs, Lilith foi resgatada da categoria de demônio, embora esse resgate tenha ficado circunscrito à determinadas tradições, como a Bruxaria e a Wicca.

Nessas tradições, Lilith não é um demônio mas uma poderosa deusa primordial, que representa o poder da mulher. Poder não sobre o outro ou sobre as coisas, mas sobre si mesma – o poder de ser ela mesma, de saber fazer com que seu espaço e seu lugar sejam respeitados, de se expressar e viver como seja mais apropriado para ela, sem se submeter à condições abusivas ou mandatos culturais.

O poder de ser livre.

Um Poema

No livro “O Oráculo da Deusa”, há um belo poema sobre Lilith, que expressa bem suas características:

Eu danço a minha vida para mim mesma
Sou inteira
Sou completa
Digo o que penso
E penso o que digo

Eu danço a escuridão e a luz
O consciente e o inconsciente
O sadio e o insano
E falo por mim mesma
Autênticamente
Com total convicção
Sem me importar com as aparências

Todas as partes de mim
Fluem para o todo
Todos os meus aspectos divergentes tornam-se um

Eu ouço
O que é preciso ouvir
Nunca peço desculpas
Sinto os meus sentimentos

Eu nunca me escondo
Vivo a minha sexualidade
Para agradar a mim mesma
E agradar aos outros

Expresso-a como deve ser expressa
Do âmago do meu ser
Da totalidade da minha dança

Eu sou fêmea
Sou sexual
Sou o poder
E era muito temida.

Autora: Amy Sophia Marashinsky

Lilith e Eu

Este texto todo é uma carta de amor à Lilith que habita em mim – ou será que sou que habito nela?

Eu a vejo não como uma coisa separada de mim. Não a vejo como um aspecto meu; mais que nada, eu sou um aspecto dela. Digamos que eu sou uma expressão dela, sou uma das faces dela no mundo físico.

Não que eu creia que Lilith (ou qualquer das outras deusas) é um ser como o Deus católico, um ser personificado, individual e com consciência própria. As deusas, neste caso, são arquétipos e forças primordiais: “energias”, por assim dizer, que se expressam através dos seres humanos.

Uma metáfora para explicar melhor meu pensamento, seria comparar essa energia com a energia elétrica: nós somos os fios, tomadas e aparelhos que a conduzem e funcionam através dela.

A energia de Lilith me guia e me protege. Ela permite que eu saiba me defender, e defender meu espaço; que eu tenha força para vencer as batalhas necessária, e intuição para perceber quando estou em perigo.

Lilith é quem faz com que eu saiba meu exato valor – nem mais, nem menos. Ela também me mostra o valor real e exato das outras pessoas, vendo além das aparências e do status social.

Ela me mostrou que os lugares escuros do meu mundo interior nem sempre estão ligados ao mal, e me ensinou a caminhar por esses lugares escuros. Me ensinou a aceitar todos os aspectos e todas as partes de mim mesma, sem relegar nenhuma dessas partes ao esquecimento.

Me ensinou a olhar para os demônios que guardo em mim, e a não temê-los; mas nomeá-los, reconhecê-los, e lidar com eles diretamente.

Ela é quem permite que eu diga não, que eu vire as costas e vá embora, quando me vejo em uma situação abusiva ou que não é apropriada para mim; assim como ela fez, abandonando o Éden.

Eu poderia falar e falar, listando todas as coisas que se expressam em mim através de Lilith; ela permeia todos os aspectos do meu ser, principalmente aqueles através dos quais eu atuo no mundo exterior.

Lilith me confere força, poder, intuição e sabedoria. Ela sabe o que é certo e o que não, o que é apropriado e o que não.

Para finalizar, proponho: recupere sua Lilith. Mesmo que ela não seja sua deusa principal, os benefícios de tê-la presente em sua vida são extraordinários.


Créditos do texto Nospheratt

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