domingo, 18 de março de 2012

A cultura do ficar


As mudanças ocorrem e atualmente o "ficar", marca registrada de uma relação superficial, está disseminado e vai além das fronteiras da adolescência. Jovens adultos e, por vezes, não tão jovens, rendem-se a essa prática. O que pretendem? O que encontram?

Qualquer dia da semana, a qualquer horário, nas escolas, nos clubes, nos shoppings, nas baladas de todos os tipos e acreditem até mesmo no transporte coletivo, observamos casais que não satisfeitos com o flerte , um namorico à moda antiga, entregam-se a beijos e carícias com pessoas que muitas vezes estão vendo pela primeira vez e hora.

O Prof. Dr. Sandro Caramaschi da Universidade Estadual de São Paulo diz "ficar não é uma mudança comportamental isolada, e sim o reflexo de uma sociedade composta por pessoas mais centradas em si mesmas". Acrescenta que "ficar" pode ter a duração de um beijo, uma noite, algumas semanas mas, sem telefonemas ou confirmação de encontros.

Segundo a psiquiatra e psicanalista Simone Sotto Mayor, "numa cultura onde o transitório e o descartável cada vez têm mais lugar, o "ficar" parece representar o máximo possível de uma relação provisória. Nesse caso os envolvidos parecem estar interessados apenas no bônus da experiência sensorial. Os ônus seriam os do compromisso."

O psicoterapeuta de adolescentes Içami Tiba sinaliza que essas relações superficiais, relações "fáceis", são indicativas de que a tolerância está diminuindo assim como a capacidade de superar as frustrações.

Os jovens dizem que trata-se de uma forma de conhecimento. Algumas vantagens apontadas: conhecer muitas pessoas diferentes , possibilidade de avaliar um maior número de parceiros e a ausência de compromisso, diz a psicóloga Olga Tessari.

Ora, namorando você também conhece pessoas e nada limita o número de namoros possíveis para uma pessoa, já quanto ao compromisso o mesmo não acontece , pois, em nossa cultura o namoro supõe fidelidade. No "ficar" a frase "se aparecer alguém melhor ... estamos liberados" se aplica sem discussão, já no namoro por existir um vínculo afetivo, se o rompimento for unilateral provocará sofrimento. Viver uma relação sob a ótica do "ficar" nos remete a valores imputados pela sociedade de consumo, assim tudo é descartável, transitório e sempre há melhor.

Sem sofrimento, sem dor, sem compromisso, sem vínculo, mas também sem afeto, sem intimidade emocional, sem sentimentos profundos.

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